As belezas da Baixada Fluminense
A Baixada Fluminense tem mais de 30 igrejas e capelas do período colonial e da época do Império. São construções que ajudam a contar a história da região.
Na tranqüilidade secular parece que o tempo parou. Mas a fachada desgastada da Igreja do Senhor do Bonfim mostra que as mudanças continuam acontecendo na cidade de Magé, uma das mais antigas do estado, com quase 500 anos, e que tem o maior número de igrejas históricas da Baixada.
O historiador Gênesis Pereira Torres explica que o auge do desenvolvimento econômico da região, no século 18, devido à exploração de ouro em Minas Gerais, trouxe gente, recursos e igrejas. “A igreja é o reflexo da riqueza. Por isso as comunidades se fixavam no entorno das igrejas. Então, a igreja não era só um centro religioso, mas também um centro social.”, explica o historiador.
A Igreja de Nossa Senhora da Piedade nasceu em um morro como uma capela, às margens da Baía de Guanabara. A atual construção, no Centro de Magé, tem 255 anos. “Essa igreja tem uma importância muito grande porque fica exatamente onde estava concentrada a maior parte da produção agrícola da região. A importância dela é que vai dar condição para o desenvolvimento, durante o século 18 de uma comunidade religiosa que preservou e construiu uma igreja com grande riqueza de imagens e arquitetura”, ressalta Torres.
Para o historiador, a Igreja de Magé é o melhor exemplo do estilo barroco na Baixada Fluminense. Um estilo de obras rebuscadas e com muitos detalhes. “Não chega a ser aquele barroco clássico do rococó mineiro, cheio de detalhes, onde se investia a religiosidade e os recursos financeiros que Minas Gerais oferecia graças ao ouro. Mas A Igreja de Magé foi construída na mesma época, no período áureo do ouro, e alguma riqueza também ficou nela”, conta Torres.
Nas paredes da Igreja de Magé, as pinturas originais estão bem conservadas. A igreja foi tombada pelo Instituo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) há oito anos. É uma relíquia da época colonial visitada por moradores e por turistas. A Igreja de Magé também fez parte do cenário de um outro acontecimento histórico que ficou conhecido como “Horrores de Magé”. No Largo da Matriz foram travadas lutas da Revolta da Armada contra o exército do Marechal Floriano. Centenas de pessoas morreram.
Magé tem outras histórias. Há 440 anos um milagre transformou um local, a dez minutos do Centro, no Poço Bento do padre José de Anchieta. “Era uma época de seca. O poço é, exatamente, o local onde o padre jesuíta José de Anchieta chegou e, com o seu cajado, tocou no solo e a água apareceu. Não teve a necessidade de furar um poço. Ele é considerado um poço milagroso. Existem peregrinos que freqüentam o poço e fazem o seu pedido e levam a água para casa”, conta uma moradora da cidade.
Para os moradores que vivem em áreas sem saneamento, a água é uma benção. “Para usar em casa, a água do poço é ótima. Para lavar roupa, para beber. A água para usar e essa mesmo. É a única que tem”, conta Manoel Pereira da Silva, que mora na região há 30 anos. Apesar das carências, Manoel gosta da região e valoriza a cultura e história da sua terra. “É um lugar muito gostoso de se morar. É uma área turística, histórica, uma atração de Magé”, conclui Manoel.
A luta para preservar a Igreja do Pilar
Ao redor da Igreja Nossa Senhora do Pilar, a vida flui e Duque de Caxias cresce. A construção de 1720 marca a paisagem e a trajetória da região. A igreja é o símbolo de um momento áureo da Freguesia do Pilar, local estratégico para Portugal no século 18. E a comunidade conhece bem essa história.
“As riquezas que vinham das regiões de Minas Gerais eram conduzidas por animais até em frente a nossa igreja. Existia o porto do Rio Pilar, onde pequenas embarcações conduziam os materiais até a Baía de Guanabara”, conta o líder comunitário Edmilson Bastos.
O ouro do comércio respingou nos altares talhados em madeira. São obras de arte do barroco brasileiro que encantaram visitantes ilustres. História contada por outro antigo morador. “O Duque de Caxias passou pela igreja, assim como Dom Pedro II e Dona Domitila”, conta Antonio Câmara dos Santos, morador de Caxias. Antonio tem 60 anos e nasceu na Baixada Fluminense. Brincou e correu em frente à Igreja do Pilar.
A Igreja do Pilar ficou nove anos fechada por problemas estruturais. Durante os últimos dois anos, foram feitas obras de restauração do telhado, da fachada e das paredes internas e externas, que permitiram a reabertura parcial da igreja.
Mas o tempo que a igreja passou fechada agravou os problemas de infiltração, que danificaram ainda mais os altares laterais e o altar-mor. Um deles caiu totalmente. As imagens que estavam neles foram roubadas.
“Cada altar era dedicado a uma imagem. A gente tinha os altares de Sant´Anna, de São Miguel, da Imaculada da Conceição e da Nossa Senhora do Rosário, que dedicada aos negros. Tinha também o altar-mor, onde ficava a imagem de Nossa Senhora do Pilar”, conta o seminarista Vanildo Cregi.
Mesmo quando estava fechada, a igreja continuou sendo o ponto de encontro de fiéis de todo o estado do Rio, que celebram Nossa Senhora em 12 de outubro. Em 2005, cerca de 7 mil pessoas se reuniram no local. A Igreja de Nossa Senhora do Pilar foi tombada pelo Iphan em 1938.
E, hoje, a igreja recebe maiores cuidados para evitar outras deteriorações. “Saber que eu estou zelando por um patrimônio histórico de quase 400 anos, ter essa responsabilidade, é muito bom. Quero estudar História. Quero me aprofundar na história da Baixada Fluminense. Não só da Baixada como do Brasil também”, conta Diogo do Amor Divino, zelador da igreja.
Uma lição de ecologia na Mata Atlântica
A Baixada Fluminense tem quase 70 mil hectares de Mata Atlântica preservada. É um ambiente para a vida de milhares de espécies animais e vegetais. É uma área que corresponde quase a duas vezes a do município Magé. As cachoeiras são atrações. Existem, na Baixada Fluminense, pelo menos 20 quedas d´água, em municípios como Guapimirim, Nova Iguaçu, Mesquita, Queimados, Japeri e Duque de Caxias, onde fica o Parque Municipal da Taquara.
“O Rio Taquara nasce no Pico dos Macacos e vai margeando todo o nosso parque. Temos piscinas naturais com água totalmente cristalina, sem nenhuma poluição. É uma água bem limpa que você pode tomar banho à vontade”, ressalta o biólogo Nelson Barroso Conceição.
“Temos que preservar essa natureza. Todo dia de manhã eu vejo os micos, os passarinhos. É muito bonito: os micos ficam pulando. É ótimo morar perto desse parque”, conta Charles, morador de Caxias. A comunidade aproveita. No verão, cerca de 5 mil pessoas visitam as cachoeiras do parque nos fins-de-semana. “É um impacto ambiental bastante forte. Por isso existe a necessidade de educação ambiental dentro do parque. Nosso enfoque é trabalhar com as crianças sobre essa necessidade de cuidar do meio ambiente”, explica Vera Lúcia Rocha, diretora do Parque Municipal da Taquara.
Diversão e educação ambiental. As crianças das escolas da região percorrem trilhas do parque. Antes de entrar na mata, meninos e meninas recebem um saquinho para recolher o lixo, e aprendem rapidamente a lição.
“A gente está limpando aqui para os animais e para a gente mesmo”, diz a pequena Josiane Pessoa. “Eu amei fazer o passeio pelo parque. Eu nunca tinha entrado em uma floresta e nunca tinha visto um rio. Foi a primeira vez. E eu amei”, conta a aluna Carla Santos.
“O parque é um espaço de contemplação e é uma unidade de conservação permanente. Então, nós temos que manter essa preservação. Quanto mais você observa essa natureza intacta, mais vezes terá vontade de voltar. Não é sempre que você vê uma natureza tão perfeita assim. E saber informações sobre a natureza ajuda na preservação. Quanto mais você conhece a natureza, mais você vai preservar, mais você vai se encantar por ela”, conclui o biólogo Nelson Barroso.